☀ What Sparks Poetry: Mónica de la Torre on "Variation I"

morning happens when in the apparent movement of succession
of days and nights the earth all of a sudden shines on the sun not
so suddenly though since the day happens slowly everything
happens slowly though only all of a sudden does it become real and sudden
everything is what was happening slowly until the moment it
burst into sudden reality all of a sudden it is morning just like all of a sudden
water flows from the source and as suddenly intermittent like the day
the source is a sudden intermittence a phenomenon explained
by the principle of the pythagorean cup and all the magic of a
source turns suddenly into the flow of the larger pipe of a
system of communicating vessels whose primed siphon allows for the
passage of the lovely liquid from one vessel to another existing
due to its flowing and the origin of the flowing origin and like leonor
it is a product of the succession of days and nights and the fact
that she rises from bed where she lay intermittent during
the dark night and suddenly the source the day and leonor
irrupt she steps on the cold ground vessel where the lushness is born and at the tip
of her fingers the filaments of the leaves’ veins shudder
and leonor shivers and her nerves shudder until registering
the sensations and the message of lushness is in the origin
of her motor nerves transmitting orders through her body
and the beautiful muscles of her leg bend backward
of her thigh upward of her belly inward
of her shoulders forward and of her head downward
and her orbicular muscles receive the message of lushness
almost shutting her beautiful eyelids
and her pupil contracts and a tingling
in her breasts hardens the pink blossoms of her nipples
and all of this happens in the intermittence of the mechanism of
sensitivity solely
because it is morning and the day rises
and water springs from the sources and there is lushness

VARIAÇÃO I

                       Descalça vai para a fonte
                       Leonor pela verdura
                       Vai formosa e não segura
                                                  —Camões

a manhã acontece quando no movimento aparente da sucessão
dos dias e das noites a terra de súbito ilumina o sol não
tão de súbito porém só de súbito se torna real e súbito
é tudo o que foi lentamente acontecendo até ao momento de
explodir em realidade súbita de súbito é manhã como de súbito
brota uma fonte e tão subitamente intermitente como o dia
a fonte é uma súbita intermitência fenómeno que se explica
pelo princípio do vaso de tântalo e toda a magia de uma
fonte resulta do súbito escoamento do ramo maior de um
sistema de comunicantes cujo sifão escorvado permite a
passagem do formoso líquido de um vaso para outro existente
pelo seu fluir e origem da origem fluente e como leonor
é um produto da sucessão dos dias e das noites e do facto
de erguer-se de seu leito onde esteve intermitente durante
a noite escura e subitamente irrompe a fonte o dia e leonor
poisa o pé no chão frio vaso onde nasce a verdura e na ponta
de seus dedos estremecem os filamentos das nervuras das
folhas e leonor treme e seus nervos estremecem até ao registo
das sensações e a mensagem da verdura está na origem de
seus nervos motores transmitirem ordens por seu corpo
e os belos músculos flectem em sua perna para trás
em sua coxa para cima em seu ventre para dentro
em seus ombros para diante e em sua cabeça para baixo
e os músculos orbiculares recebem a mensagem da verdura
e quase cerram as suas belas pálpebras
e sua pupila se contrai e um arrepio
em seus seios endurece a rosada floração de seus mamilos
e tudo isto acontece na intermitência do mecanismo da
sensibilidade só
porque é manhã e surge o dia
e brotam as fontes e há verdura

From Leonorana, thirty-one thematic variations on a lyric’s stanza
by Luís de Camões (1965–1970)